Um ano de guerra depois, o cabaz alimentar custa mais 45 euros
Uma ida ao supermercado fica agora mais cara do que há um ano. Feitas as contas, os portugueses pagam atualmente mais 45 euros pela mesma lista de compras do que pagavam em fevereiro de 2022. Um relatório da DECO Proteste, publicado na passada sexta-feira, revela que apesar de a taxa de inflação ter vindo a baixar, o preço dos alimentos continua em rota ascendente. A DECO pede, por isso, maior transparência na formação dos preços.
O disparar de preços dos alimentos tem sido associado à guerra na Ucrânia, não só devido ao aumento dos custos de energia, mas também porque a Ucrânia e a Rússia são os principais exportadores de cereais para a União Europeia.
Com as exportações de cereais interrompidas, os preços dos alimentos atingiram níveis recorde em 2022, segundo revelou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em janeiro deste ano.
No entanto, segundo explicou Ana Guerreiro, porta-voz da DECO Proteste, não existem dados que permitam concluir que a subida de preços nos alimentos a que se tem assistido se deve exclusivamente à guerra na Ucrânia.
“Se eventualmente fosse exclusivamente uma justificação pela guerra da Ucrânia, então as mercearias, as massas e tudo aquilo que tivesse como base os cereais, seria o segmento de produtos com maior aumento nos preços. E não é o caso”, disse Ana Guerreiro à RTP.
Ana Guerreiro lembra que Portugal passou por um período de seca severa e depois de cheias. “Houve uma série de fatores que ainda impactaram mais o ciclo de produção dos produtos, mas ninguém sabe o quanto afetaram e de onde veio esse impacto”, afirmou.
A porta-voz da organização pede, por isso, maior transparência “para que os consumidores percebam de onde é que vem este aumento”. O relatório faz ainda referência à taxa de inflação, que disparou em Portugal e na zona Euro desde o início da ofensiva na Ucrânia, atingindo um pico de 10,6 por cento em outubro de 2022.
Desde então, a taxa de inflação em Portugal tem vindo a diminuir, mas o preço dos alimentos não tem acompanhado essa tendência. Em janeiro deste ano, a inflação baixou para 8,4 por cento, mas os preços dos alimentos continuaram em rota ascendente nas primeiras semanas de 2023, segundo mostram os dados da DECO.
Por este motivo, a DECO insiste numa maior transparência na formação de preços “para que os consumidores entendam qual a justificação para o aumento dos preços de determinados produtos alimentares”.
“Se há uma justificação para isto, nós enquanto consumidores precisamos de saber”, disse Ana Guerreiro, porta-voz da DECO Proteste.
“Não vemos nem uma redução nem uma estabilização dos preços e, portanto, pelo menos tem que existir transparência por parte de todos os intervenientes desta cadeia de produção”, apelou.
A organização de defesa do consumidor afirma ainda que “o Governo deve adotar um papel mais ativo no acompanhamento da evolução dos preços da alimentação, seja em termos legislativos, seja através da ASAE, para exigir maior transparência quer à produção agroalimentar quer ao setor da distribuição”.